Rubenildo Metal: Bangh” O que fazermos com nossos jovens?

Bangh” O que fazermos com nossos jovens?


“O sonho, aquele doce sonho dos anos 60, acabou [...]. Tudo isso ficou lá guardado na memória e no coração de quase todas as cidades do ocidente. Entretanto, como aparece em narrativas fantásticas, uma sombra se desgarrou no cenário de ilusões, rompeu o mundo do sonho, transpôs a barreira da realidade. E se alastra. E contamina. E se multiplica. E adquire formas variadas, surpreendentes, assustadoras. Essas sombras são as drogas”.
Com essas linhas bem resolvidas, dos editores da coleção TUDO SOBRE DROGAS, é que abro este artigo.
A volta à moda das drogas se deve, entre outras razões, à ascensão social da geração de 1968, tendo a maconha como o carro chefe.
Eu vivi essa época, era o poeta polêmico, pintor modernista e tinha os cabelos compridos, parecia mais um artista de rock. Eu amava os Beatles (mais Lennon e Paul Macartney) e Elvis Presley, mas não os segui nas drogas, como foi o caso da maioria dos jovens da época, que via seus ídolos viajarem fantasticamente no mundo delas, e imitava-os. Ao contrário deles, imitava o “messias”, - o verdadeiro poder de espiritualidade e iluminação, mas isso é outra história.
E saber que tudo começou com um “inocente” cigarro de maconha. Tomo como exemplo Elvis Presley. Ele morreu com 41 anos de idade, inchado, desfigurado e sozinho, vítima dos barbitúricos, dentro de uma casa de 40 cômodos e três automóveis, de última geração. Imagino, assim, o noticiário da época, dando conta para o mundo da sua morte.
Elvis tinha o mundo aos seus pés. Jovem, rico, bonito, talentoso, com admiradores pelo mundo inteiro. Infelizmente, nem a sua morte trágica e precoce serviu de exemplo aos jovens.
A verdade, indisfarçável, é que se tornaram mais e mais comuns os casos de gente drogada: roqueiros, anônimos, gente comum. Nem mesmo a repressão policial, o lamento de pais e mães, as advertências de estudiosos, nem mesmo as leis. Nada parece causar impacto ao progresso das drogas. E cada um de nós tem, pelo menos, um amigo viciado ou um parente. E assim vemos rapazes e moças morrendo cada vez mais, em decorrência do envolvimento com essas substâncias.
A maconha está no grupo das drogas fantásticas que incluem também o LSD (diga-se de passagem, todo viciado em LSD teve na maconha o seu primeiro degrau para o vício). Há outra classificação tradicional apresentada por Jean Delay que é psiquiatra e professor na Sorbonne. Ele classifica a maconha como pertencente ao grupo dos psicodislépticos; os quais compreendem todas as drogas cuja ação sobre o cérebro é quase imprevisível, podendo provocar alucinações, despersonalização ou surtos psicóticos. Dentre elas destacam a maconha, o LSD e a mescalina.
A capacidade tóxica da maconha depende da qualidade da planta, do lugar, do solo, em que foi plantada, e do tratamento que recebeu. É planta dióica, isto é, há exemplares femininos e masculinos, sendo que a fêmea é a que possui maior capacidade tóxica.
Dentre as alterações da maconha no indivíduo, que já são comuns, ou seja, desinibição nos gestos, no falar, no vestir e no caminhar, há, também, a liberação sexual que, com o passar do tempo, pode transformar-se em homossexualismo.
“O jovem deveria saber que o cérebro é apogeu do fantástico e ele o agride de forma quase irreversível [...]. É o pedaço de matéria mais altamente organizado do universo [...]. É este o órgão sublime e fantástico que o viciado bombardeia diariamente, com seu vício”. Essas são palavras de quem entende do assunto, o médico e especialista em drogas, Dr. Edson Ferrarini.
É comum o argumento de que a maconha é um produto natural, e que teria propriedades menos tóxicas do que as drogas sintéticas, as chamadas drogas “químicas”. Nada mais falso. No componente dessa substância, há propriedades capazes de provocar imensas reações na mente humana. Muitos relacionam essa droga com o seu principal produto ativo – o Delta 9. Desconhecendo que o THC não é a única droga biologicamente ativa presente e nem tão pouco a única droga psicoativa. Existem cerca de 11 tipos de THC na marijuana. Todos ativos, sendo, no entanto o Delta 9 o princípio alucinógeno mais forte.
Nada mais falso, também, dizerem que a maconha é “coisa” sagrada. Na Índia, na idade pré-cristã, por exemplo, ela é conhecida no vocabulário hindu como bangh (bebida feita à base de maconha). Tomar bangh seria uma forma de entrar em comunhão com deus Shivas, um deus que, segundo a mitologia hindu, considerava a maconha a comida favorita e, por isso, viveria o tempo todo chapado.

A preocupação da ciência com esse assunto começou em 1894, quando o Império Britânico tentou proibir a droga, argumentando, cientificamente, que bangh causava demência.
O hinduísmo não é a única religião a dar destaque para a canabis sativa, também para os budistas da tradição Mayana. Ao contrário dos muçulmanos que usaram maconha até a idade média e pararam com a droga. Na Jamaica, a fumaça da maconha é sagrada e serve para louvar o deus Jah. É comum, entre eles, fumar maconha e expressarem-se para “dar uma canja ao Rei Jah.”Segundo eles, é importante para a “saúde espiritual, mental e física”. Deus Jah é o deus do Reggae. Todos eles “atrás" da iluminação.
Outra coisa, logo após, cessados os efeitos psicoativos da maconha, vários problemas podem ocorrer, como deficiência na habilidade de acompanhar estímulos em movimentos, ou seja, habilidade de captar trajetória e no julgamento. Testes realizados em laboratórios têm demonstrado isso, e mais, ficou comprovado que os usuários apresentam baixo desempenho nessas atividades até dez dias.
Para se ter uma idéia, a substância da maconha no usuário pode ficar estocada em vários órgãos do corpo humano, a exemplo do cérebro, pulmões, testículos e ovários, atestam os especialistas.
Nos últimos cinco anos, enormes progressos têm sido feitos no campo farmacológico da maconha. Constatou-se que essa droga afeta o comportamento, os pensamentos, as emoções e os desejos. O pensamento torna-se menos preciso e a execução de certas tarefas é prejudicada.
“Estudos dos efeitos da maconha em cérebros de macacos constataram alterações cerebrais, principalmente em zonas do hipotálamo, próximo às áreas das reações prazerosas. Essas pesquisas foram completadas por outras feitas na universidade da Califórnia, onde foi dada a macacos uma quantidade de THC, correspondente à dose absorvida quando se fuma um cigarro de maconha por dia [...].”
Novo estudo foi feito através da moderna técnica tomográfica, computadorizada, e chegou-se à conclusão de que em alguns macacos houve um alongamento significativo dos ventrículos cerebrais, após 2 a 4 meses de aplicação diária dessas doses.
Em Londres, verificou-se que, em Hippies (os jovens que lideravam nos anos 60 o movimento ou, melhor dizendo, “a farsa da paz e amor”), usuários crônicos de maconha, houve o mesmo alongamento e atrofia dos ventrículos cerebrais. Isso está de acordo com estudos e experiências do professor Jack Mendelson, da Universidade de Harvard e Robert Kolodni, e com os registros do livro “Sobre drogas”, do Dr. José Murad, que consta quase tudo o que se deve saber sobre as drogas.
O mesmo Robert, em um depoimento prestado diante do sub-comitê de segurança interna do senado americano, enfatizou que o uso abusivo de maconha pode provocar distúrbios na produção de esperma, possibilidade de defeitos de nascimento, diminuição de vários hormônios e mesmo inibição do caráter que determina a diferenciação sexual, durante o desenvolvimento do feto.
Numa outra pesquisa, o professor Mendelson estudou 17 homens que não tinham um histórico no uso da maconha. Deu-lhes então maconha para fumar durante cinco semanas, em 20 dias seguidos. Resultado: 20% manifestaram uma impotência temporária ou, em outras palavras, “broxaram”, também verificou uma redução de 44% no nível de testosterona.
O primeiro registro de contato entre o homem e a maconha, ou cânhamo (planta têxtil que contêm a mesma substância da maconha, o canabinol), foi na China, há 6.000 anos atrás, cultivada para extração de suas fibras, muito utilizada na indústria têxtil. Esse é um dentre os vários e antigos usos da maconha.
Bem mais recente, os cardiologistas têm constatado o aparecimento de dores no peito, em adolescentes, em seus gabinetes médicos, um fenômeno raro. Todos, jovens usuários de maconha. Por outro lado, tem-se verificado o desaparecimento da dor, após a suspensão do uso da droga.
O que se lamenta, em tudo isso, é que, a cada dia, aumenta a apologia às drogas, principalmente entre os próprios jovens: é o amigo de infância, é o colega da universidade, é o namorado ou a namorada ou vice e versa e vão formando os grupos, as chamadas “batotas”. Ou as próprias propagandas enganosas dos paladinos da droga, e agem, como a propaganda nazista, a mentira repetida. E deles não deve dizer: “coitado, é apenas um inocente viciado” ou “coitado, ele só quer se divertir”, ou a repetição de sempre “é um doente” (às vezes, é).
Um relatório do Instituto de Medicina de Washington afirma que existem sérias causas de preocupações acerca dos riscos à saúde de nossos jovens, pelo uso da maconha. O relatório tem o apoio também do cirurgião e secretário de saúde dos Estados Unidos.
A maconha é uma exceção no circuito do narcotráfico. Diferentemente da cocaína e da heroína, que percorrem grandes rotas do produtor ao consumidor, o comércio da maconha é abastecido, basicamente, por produções locais. O Brasil é um clássico exemplo de país produtor e consumidor ao mesmo tempo. E tem o estado de Pernambuco o seu maior produtor. Veja o que diz Roberto P. de Toledo em seu artigo quinzenal da Revista Veja: “Ao Brasil, país do mundo, talvez, mais castigado, depois da Colômbia, pela violência e degradação trazida pela droga.”
A maconha está também incluída na categoria de drogas perturbadoras. São drogas que têm efeito perturbador na atividade do sistema nervoso central e podem ser de origem vegetal, certos cogumelos, lírios, ou de origem sintética, o ecstasy e o LSD. Essa droga é muito poderosa. Sua classificação é simples, prática e substitui os mais antigos e mais complicados.
Droga! É uma droga! Mas que droga! Foi uma droga! São exclamações assim que fazemos no nosso dia, quando alguma coisa dá errado, ou até mesmo a uma simples topada. Enfim, droga tem significado de coisa ruim, coisa má.
É evidente que em linguagem de medicamentos, óbvio, um usuário de drogas não vai encontrar cocaína ou maconha em nenhuma farmácia, clínica ou hospital. O que existe nessas Instituições são medicamentos que causam certa dependência, mas sofrem um controle no seu uso. Eu falo da DROGA que criminaliza e causa a ruína do indivíduo. E digo mais, pode até ser que basta um cigarro de maconha, para que um inocente esteja na mão de traficantes. A depender do DNA, a célula se abre e se instala à disposição para o uso das drogas, evidente que é uma minoria, que busca essa substância, num desejo irrefreável. A partir daí, a pessoa é destituída de vontade própria. Algo em torno de 16% dos usuários de maconha desenvolvem o uso compulsivo.
Quem fuma 2 a 3 cigarros de maconha, por dia, é um viciado. Mas não pára por aí, pois, a depender da tolerância, o quadro pode piorar, e o indivíduo pode vir a ser um dependente crônico, por toda vida. Estudos revelam que maconha não causa dependência física.
Um perfil claro de dependente de maconha, em geral, é de um jovem, quase sempre ansioso e, eventualmente, depressivo. Muitos especialistas apontam para o fato de que a maconha está ficando mais perigosa, na medida em que fica mais potente. “Ao longo dos últimos 40 anos, foi feito um melhoramento genético, cruzando plantas com alto teor de THC. A engenharia genética é usada para aumentar a potência, o que poderia aumentar o potencial da dependência”.
Doses mais elevadas, acima de 15 mg de THC, podem produzir idéias paranóicas. Nestes casos, a repetição de dose pode provocar quadros esquizofrênicos severos. Doses assim podem ser atingidas quando a planta é ingerida pelo aparelho digestivo. Pois há quem coma, afirma Dr. D. Xavier, coordenador do programa de orientação contra as drogas da Escola Paulista de Medicina.
Para além dessa discussão, o fato é que ninguém conseguiu provar que maconha faz bem. Talvez, preste para algum fim medicinal, apesar de ser bom para picadas peçonhentas. Deixo o meu provérbio.
Enfim, crescem no mundo inteiro as preocupações com o uso crescente da maconha pelos adolescentes. Todas as pesquisas mais recentes dessa droga estão indicando que ela pode provocar graves danos no organismo humano.
Tudo isso se deve, em parte, há quatro décadas passadas, (os anos 60) “que tiveram também este poder de produzir e prolongar a coexistência com as drogas”, ou, talvez, se deve a bangh, que iniciou todo o barato.

Ficou o pesadelo.
“E agora “José”? A festa acabou".


Alberto David
“Da Academia Conquistense de Letras e Ex Diretor do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima”